quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A natureza do viver


Existe um caminho a minha frente e eu quero seguir nessa direção. Mas as águas que já passaram não voltam. O barulho da chuva na janela entoa uma melodia, entra dentro do meu coração e sinto um aperto. 
É como se uma agulha estivesse o tocando. Meus sentimentos não querem se lembrar das coisas passadas que foram ruins, porém, isso é inevitável. 
Saio até o quintal para que o vento me mostre qual direção devo seguir, o céu está nublado, as estrelas não poderão me guiar. O chão está repleto de folhas secas, ainda é outono. Sento no balanço que há no quintal e ali me recordo dos bons momentos em que vivemos. Quando fecho os meus olhos tudo retorna à minha mente, como se a minha perda de memória tivesse sido apenas um colapso.
E o retorno acontece.[...]
O tempo passou. As árvores dessa rua foram cortadas. Aquele Ipê amarelo que primaverava as nossas tardes se secou. Quando você partiu a primavera foi embora. As flores se murcharam, mas eu as aguei. Cuidei, adubei e plantei novas sementes para que na próxima primavera possam desabrochar ainda mais belas. As pequenas sementes de uma Camélia se vão à terra. Na maciez daquele seio que as acolhe, adormecem para que no tempo certo possam ressurgir.[...]
No meio da noite os pássaros estão dormindo em seus ninhos, observo como as asas de suas mães os protegem. Ainda que o perigo apareça, ela lutará para salvá-los de qualquer predador. É o amor maternal. Assim como o celestial, são os únicos que não se desfazem em meio aos perigos ou dores. Pego o regador antigo da minha vó, as samambaias têm sede. A água límpida que sai da torneira, relembra-nos o processo de purificação que foi feito, para que chegasse àquela translucidez. Antes estava cheia de impurezas e não era adequada ao consumo humano. Porém após algum tempo, depois de alguns processos, ela é disputada pelo mundo todo. Se fôssemos persistentes em nossas dificuldades, assim como foram os homens que criaram o processo de potabilização, faríamos muitas descobertas.
Poderíamos ter  sido sobreviventes de um naufrágio depois de muitas tempestades. Os desastres naturais teriam sido suportados. O tsunami não teria abalado as placas tectônicas de tal forma que mudasse tudo de lugar e as ondas não teriam sido tão altas. As ondas sísmicas do terremoto não teriam atingido um número tão alto da escala Richter. O furacão não teria arrancado aquilo que estava plantado no coração. Mas como todo desastre chega ao fim, esse também pode ter chegado. Pode ser que os desastres tenham arrancado o que estava na superfície, mas as raízes, continuam intactas. 
Mudou-se a estação. Talvez a neve tenha encoberto a terra onde estão plantadas as camélias. Mas os raios solares já começaram a refletir no espelho. O céu está majestosamente azul. O dia amanheceu e o brilho se intensificou. A neve que mais parecia um montante de algodão muda de estado, dá lugar aos pequenos sinais de que as flores estão brotando. Se as camélias tornar-se-ão lindos ramos em um bouquet, é algo que não será respondido agora. Quem sabe talvez, no fim dessa nova primavera?!

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